sábado, 10 de outubro de 2009

Cebolas...

É, cebolas.

(‘Eu não lembro de cebolas’ – ‘Lembra sim! Papai costumava fazer quando...’ OK, piada interna, sigam adiante, não tem nada pra ver aqui).

Foi, tipo, do nada. ‘Qual o tema?’ e um deles respondeu, na cara: ‘cebolas’. Tá, né? Eu e os outros concordamos. E assim ficou acordado que, numa semana mais ocupada que banheiro em casa de adolescente, cada um de nós quatro tinha que escrever um texto com o tema ‘cebolas’.

Então eu parei e me pus a pensar: o que diabos me faz pensar em cebolas? Os almoços de terça-feira aqui na minha casa. Um certo personagem famoso de história em quadrinhos. Meu hálito. Nada que parecesse digno de um texto próprio, isso sim (apesar de que, agora que paro pra pensar, eu poderia simplesmente colocar uma receita culinária e poupar meu tempo; o episódio mais recente de Big-Bang Theory me espera).

E nesse dilema eu estava até que, num momento de iluminação, percebi a característica cebolística definitiva, a que mais seria apropriada pra uma tese filosófica como as que você só encontra por aqui (sério, pô, pode dar uma olhadas nos posts abaixo): elas nos fazem chorar. E isso a inclui num grupo muito particular e importante de coisas.

Porque são poucas as coisas que, sendo boas, nos fazem chorar. Um amor. Um bom livro ou filme. A atuação do Murilo Benício (hum, ok, esta não é bem uma coisa boa). Mas, principalmente, amigos. Amigos, sim, como aqueles que se enfiaram neste lamaçal acebolado comigo. Recentemente eu tenho percebido como eles são importantes, e como alguns deles fazem falta. Sabe, aqueles que você tinha aos catorze anos, como quem passou a maior parte da sua juventude, que jurou que iria ser amigo para sempre e quem nunca mais viu? É deles mesmo que eu estou falando.

Distância é uma coisa foda mesmo. Não importa MSN, telefone, carro, Orkut, telepatia ou sinal de fumaça, a gente sempre acaba perdendo contato. E mesmo quando se vê de novo, nunca é como era nos tempos de outrora (vixe, eu tou nostálgico hoje). Saudades.

Tá vendo? Tou lacrimejando agora. Mas provavelmente é por causa do bife acebolado que Dalva ta fazendo lá na cozinha.

E eu mato César da próxima vez que ele vier com umas dessas.

PS: Escrevi isto com uma amiga em especial na cabeça, e não, ela não tem cara de cebola. Ela não lerá isso aqui. Quem me conhece deve saber quem é. Dica: o nome começa com J.

PS2: Perdão pelo tema pouco humorístico hoje, vou tentar melhorar da próxima vez. E perdão também pelas longas ferias, espero que tenham terminado. Voltamos agora a nossa programação normal.

domingo, 21 de junho de 2009

Uma fábula universitária, parte 3...

[Parte 1 e Parte 2]

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-
Quem é ele? – perguntou alguém na multidão.

-
Não sei. Nunca o vi antes. É daqui?

Os murmúrios perpassavam todos os presentes, que continuavam a olhar em descrença para o sujeito caído. Ninguém ousava se mexer. O professor, ainda de pé, bebeu mais uma vez em sua garrafa de água antes de proferir.

- Com a morte diante dos olhos, a questão do significado da vida torna-se inevitável. Quem venceu o medo da morte, venceu todos os outros. Essa pobre alma caiu da vida para a... a... a... a... a... a eternidade como uma folha solitária no Outono. Eu já nem faço mais idéia sobre o que estou falando. Alguém devia pegar a carteira do sujeito pra saber quem ele é. Ein, mestre Zé Amaro?

Lentamente, um dos alunos se abaixou ao lado do corpo e ergueu a mão para o falecido. No exato momento em que o tocou, o professor atrás dele gritou bruscamente ‘EI!’

- O que foi? – perguntou o rapaz, assustado.

- Por que você veio para a aula usando bermuda e sandálias de dedo?

Ignorando o mestre, ele sacou a carteira do bolso do rapaz morto, e rapidamente transferiu as notas para dentro da sua própria. Depois, tirou a identidade e a leu.

- Não acredito! – Exclamou, espantado – Ele é...

- ESPERE! – Outra pessoa gritou.

- Ai meu Deus, que foi agora?

- Não sei, tipo... já ta na hora de revelar a identidade da vítima? E o suspense, pô? – todo mundo olhava pra o sujeito magro. Algumas meninas davam suspirinhos – Sei lá, pô, assim... Vamos deixar pra revelar depois, que vai dar mais Ibope!

Todo mundo continuou olhando.

- Não concordam? En serio? No creo! Se a gente falar agora quem é esse cara, qual a graça daqui pro final da história, pô?

- ...

- Não? Tá bom. Eu sei quando não sou querido, pô. Obrigado pela parte que pitoca. Beijosmeliga. Fui.

Dito isso, o cara retornou à multidão. Todos voltaram sua a atenção para a misteriosa identidade da vítima, que, chegando a esse ponto, já me faltam maneiras de esconder. Tipo, quantas maneiras existem de enrolar um leitor por várias páginas e suprimir a identidade de alguém? Sei lá, eu devia pensar um pouco mais nisso antes de escrever essa história, né? Ou então procurar me inspirar alguém que saiba fazer. Veja Dan Brown, por exemplo. Ele consegue enrolar a gente por umas quatrocentas paginas sem contar quem é o vilão da história. Já leram algum livro do Dan Brown? Eu já li os quatro, não gostei demais de nenhum deles, mas vocês têm que admitir que ele sabe como...

Tá, tá, entendi. Aí vai. Seus chatos.

- O nome dele é...

.

..

...

- ... THAYRONE!

...

- Quer dizer que... é... é... é... é... é... que todo esse suspense era pra isso? Que reconhecimento sem graça. Metade dos leitores já imaginava que era ele. Meu Deus! Acabarei meus dias como personagem de um mito simples? Tô vendo que essa história só vai pra baixo mesmo...

[continua...]

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Crianças, tentem isso em casa.

Ah, o doce sabor das férias. Depois de três semanas lendo, escrevendo, estudando, pensando, analisando poemas, discutindo teorias estruturalistas e planejando crimes em primeiro grau, finalmente eu e meus caros coleguinhas temos a oportunidade de, ao invés de dormir apenas três horas por noite para estudar, dormir apenas três horas por noite pra ver filmes de baixo nível e alta censura na TV a cabo ou ficar lendo coisas inúteis na internet (sim, eu sei que você está fazendo isto nesse exato momento). A vida de morcego me aguarda.

No entanto, eu me peguei pensando com meu elástico (minha roupa não tem botões): caracoles, e não é que eu vou ter que passar por tudo isso de novo? Do tipo, daqui a menos de seis meses? E assim sucessivamente ao longo dos próximos quatro anos da minha vida? A vida é realmente toda uma continuidade interminável de trabalhos, fichamentos, artigos e resumos? De onde viemos? Pra onde vamos? O que vai ter pro almoço hoje?

E foi assim, que em minha genialidade incomensurável e ainda maior altruísmo, decidi dedicar um pouco do meu tempo pra ajudar vocês, reles mortais. A seguir, desenvolverei métodos mais simples e rápidos para quem quer toda a praticidade de um trabalho acadêmico bem escrito e de conteúdo, mas sem toda aquela parte cansativa e maçante do aprendizado, esforço recompensado e engrandecimento intelectual.

Tabuleiro Ouija


Esse foi o método que eu imaginei enquanto começava um dos trabalhos na última segunda-feira. Tem a dupla vantagem de ser eficaz e simples de ser realizado, com o único drawback sendo a inconveniência dos gritos de pavor que vão preencher todas as suas noites pelo resto da vida.

Basicamente, ele consiste em chamar seu grupo de estudo, com a ajuda de um tabuleiro daqueles que só se vê em filmes de terror estrelados por versões adolescentes dos astros atuais de Hollywood, e usá-lo para invocar o espírito da maior entidade histórica especialista no seu campo de estudo (Estruturalismo? Saussure. Direito? Kelsen. Geometria? Euclides. Política? Clodovil). Peça pra um de seus companheiros (após gentilmente fazer uma prece pela alma imortal dele, que é a etiqueta correta nessas ocasiões) manter uma máquina de escrever a postos, para digitar rapidamente cada letra que o copinho indicar. Por que uma maquina de escrever? Por algum motivo, espíritos são aversos a computadores. Acho que eles devem ter tido experiências com o Windows Vista.

Uma alternativa a esse método seria unir o útil ao agradável: dê um fim ao maldito professor e invoque o espírito dele. Rá! Eu gosto do toque irônico nessa opção. O único problema é que, como agora não vai haver ninguém pra receber o trabalho pronto, você não vai ganhar nota, e isso talvez possa ser um pouco contraproducente

Mosaico

Esse método se baseia no altruísmo alheio e no fato de você ser mais esperto que todas as pessoas que você conhece. Peça pros seus queridos amiguinhos nerds (é bom que você tenha, principalmente nessa época do ano, queridos amiguinhos nerds) gentilmente lhe oferecerem ‘uma pequena ajuda com o trabalho do professor Fulano, oh meu deus está tão difícil, eu não consigo entender exatamente o que ele quer dizer nessa pergunta, ei você viu o episódio novo de Lost?’. Eles, pessoas caridosas que são, vão lhe ceder o próprio trabalho pronto para que você estude e entenda o que fazer. Estudar, ha, ha. Até parece.

Então, o próximo passo. Tire cópias Xerox de todos os trabalhos e posicione-os lado a lado. Com cuidado, recorte a primeira linha da cópia da esquerda. Lembre-se: use sempre uma tesoura sem ponta e trabalhe sob a supervisão de um adulto. Cole no alto da página em branco (sempre em branco) do seu próprio projeto. A seguir, repita o processo com a segunda linha do trabalho imediatamente à direita, e assim por diante, vá sempre recortando e colando. No fim, terás um trabalho que abrange tanto a sabedoria de toda a sua turma reunida quanto aquela saudável falta de coerência textual tão comum aos alunos do ensino superior brasileiro.

O segredo desse método é quantidade. Quanto mais amigos que façam o trabalho antes do prazo você tiver, mais material você vai ter para se inspirar. Como? Preocupado com questões autorais e possíveis processos legais por plágio? Relaxe, eles nunca vão perceber. Você é mais esperto que eles. Além do mais, não é plagio se você copia de todos eles juntos, certo?

Certo?

102

Pra procurar endereços, existe o Google Maps. Pra descobrir números de telefone, temos as páginas amarelas. Se você quer uma relação mais intima com a pessoa do outro lado da linha, tem um número diferente que é só pra isso. O Disk-Informações tinha de servir pra alguma coisa.

Apenas torça para que o atendente a quem você se conectar seja também, por coincidência, um PhD na sua matéria.

Ajuda Divina / Cerimônia Pagã

Método favorito por estudantes de Teologia, Medicina Alternativa, Ocultismo, e, estranhamente, jogadores de RPG, a ajuda divina consiste basicamente em clamar aos céus pela ajuda divina (dã!) da entidade espiritual pela qual você torce. Mas, calma, não vá pegar suas tábuas de pedra e sair correndo pelo deserto ainda. Como em toda boa conexão transcendental, existem detalhes.

Primeiro, é muito importante saber a que setor astrológico você deve se dirigir quando entoar um cântico pedindo ajuda. Não adianta apenas ligar pro Manda-Chuva (literalmente) lá Em Cima e esperar que ele lhe dê as respostas que você quer; o mínimo que vai acontecer é você ter que esperar horas no centro de orações enquanto eles decidem pra quem te transferir, enquanto toca uma musiquinha ao fundo (chances de ser Bee Gees: altas. Chances de ser Korn: tendendo a zero). Portanto, pra evitar burocracia, saiba logo de quem você quer ajuda: estudantes de Veterinária fazendo um trabalho sobre ornitologia poderiam invocar Hórus, enquanto Oceanógrafos podem preferir Netuno ou Posêidon.

Mas e se você não acredita em deuses? Bem, existe uma corrente alternativa para a Ajuda Divina chamada Cerimônia Pagã, que pede o auxílio de entidades muito mais terrenas. A vantagem é a maior diversidade: dependendo do seu estilo, você pode requerer uma entrevista com os espíritos da terra, a Mãe-Natureza, o Saci Pererê, o Conde Drácula, sei lá. Por outro lado, muito cuidado a quem você pede ajuda. Alguns desses caras não são confiáveis, e o setor de reclamações divino costuma ser um saco.

Em segundo lugar, saiba que, como todo serviço delivery, este tem um preço. Vários deuses, monstros e duendes exigem compensações diferentes pelo seu serviço bem feito e satisfação garantida. Lembre sempre de oferecer a recompensa certa em sacrifício: cestos com frutas são muito démodé, carneiros são legais e genéricos o suficiente pra agradar qualquer um. Mas os favoritos são, de longe, virgens e inimigos derrotados em combate. Como, hoje em dia, é praticamente impossível achar alguém do primeiro grupo (a não ser que você conte os jogadores de World of Warcraft, mas ninguém, nem mesmo os deuses, gostam de jogadores de World of Warcraft), bem... espero que perder no Halo 3 seja suficiente pra definir alguém como ‘inimigo derrotado em combate’.

E p-p-por h-hoje é só, p-p-pessoal! Mas não deixe minha falta de criatividade impedi-lo. Pense você mesmo na sua própria maneira de trapacear na vida, e não esqueça de comentá-la!

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Uma fábula universitária, parte 2...

[Veja a parte 1 aqui]

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- AAAAAAAAAAAHHHHH!

O grito vinha de algum lugar no exterior da sala, abafado pelas paredes grossas e vidros fechados do edifício. O silêncio que se seguiu foi quase completo, quebrado apenas pelas palavras incessantes da mulher de preto sentada na mesa maior, olhando para o grupo de pessoas (‘‘... Assim, podemos ver que as regras de citação dependem imensamente de qual o signo do autor a ser citado. Entraremos agora em Áries...’’).

De repente, começou o murmúrio. Então, primeiro uma, depois outra e mais outra, seguidas por várias outras pessoas da sala, se levantaram e seguiram para a porta. No fim, restavam apenas a mulher, que mesmo atônita com a saída súbita de seus alunos continuava falando incessantemente, e uma outra mulher, mais jovem, dormindo sobre sua cadeira. Logo, um rapaz moreno voltou a sala e chamou-a (‘Roberta, você não vem?’), no que ela acordou e, espantando o sono do rosto, pôs-se a acompanhar o resto do grupo, deixando pra trás a assustada professora que continuava falando.

A turma de Letras do Centro de AIDS e Contaminação avançou pelo corredor, junto com outras pessoas que no exato momento saiam de outras salas com o mesmo propósito. Rumores e teorias nadavam entre bocas e orelhas, em geral descartados com um balançar de cabeça. À medida que eles desciam a escada, a agitação se tornava maior: parecia que alguma coisa tinha acontecido logo do lado de fora do edifício. Alguns alunos começaram a ficar nervosos com o suspense, principalmente quando começaram a ouvir aquela trilha sonora aterradora, tema de Psicose. Depois, percebeu-se que eram apenas alguns alunos de Música no meio da multidão tentando incentivar a baderna, e alguém mandou que eles calassem a boca.

Do lado de fora do prédio, uma multidão ainda maior estava concentrada por todos os lados. Pessoas se apertavam e empurravam umas às outras, consumindo o espaço no estacionamento, e todas pareciam voltadas para um certo ponto próximo à entrada do prédio vizinho, o C-Fish. Todos pareciam querer saber o que aconteceu, exceto os dois vendedores de refrigerante e lanches, que já estavam pensando em montar holding pra atender melhor esse novo público.

Os alunos de Letras tentaram adentrar pela massa, sem sucesso. Alguns, excitados pela possibilidade de que tivessem aberto uma nova Xerox a cinco centavos pra fazer concorrência à anterior, já começavam a pescar livros, teses e papeis de chiclete de dentro de suas bolsas, até que um deles avistou algo e os chamou a atenção.

No meio da massa tinha um largo espaço vazio ocupado por um único homem, pois aparentemente ninguém queria chegar perto dele, pela aura de frio e pavor que ele emanava. Sua pose rígida e aparência de poucos amigos afastava os pobres estudantes dos outros cursos, mas os de Letras já estavam acostumado com sua presença gélida. Os alunos se aproximaram de seu Mestre, tentando entender o que ele, e as outras pessoas, estavam vendo. Foi uma das estudantes, uma garota destemida e elegante, que fez a pergunta:

- Professor, o que houve? Por que essas pessoas estão reunidas aqui? O que aconteceu?

O homem alto, parando apenas por um milésimo de segundo para dar um gole na sua garrafa d’água, respondeu:

- Algo horrível, senhorita Manuela. É, é, é, é, é, é... é algo que não acontecia nessa faculdade há muito, muito tempo.

No chão, rodeado pelas pessoas atônitas, havia um corpo.

[Continua...]

terça-feira, 9 de junho de 2009

The times are NOT a-changing...

Hoje de manhã, em sã consciência, tomei uma decisão de extrema importância para meu futuro acadêmico e profissional. Gazeei a aula de inglês. Minha mãe, eterna promotora, juíza e executora, proferiu a minha sentença de imediato: a tarefa hercúlea de ajudar meu pequeno irmão, de 7 anos, a fazer sua tarefa de casa.

Depois de muito apelar e procrastinar (‘‘Mas, mãe, é de extrema importância que eu memorize a lista telefônica o mais cedo possível!’’), finalmente fui coagido a levar a cabo tal diligência.

Já me preparando psicologicamente para o que haveria de encontrar nos livros de educação infantil de hoje em dia,...

‘'Então, o menino e suas amigas foram brincar nos campos e... peraí, o que é isso nessa figura? Ahn? Por que ele está fazendo isso com as três meninas e a ovelha? Não! Não! Pare com isso! Fujam, meninas! CORRA, OVELHINHA! MEUS OLHOS! MEUS OLHOS! AAAAAAAHHHH’’

... qual não foi minha surpresa ao descobrir que – cuidado aqui, a informação seguinte pode ser demais para seu coração, aconselho aos cardíacos que parem de ler esse post já – eles aprendem as mesmas coisas que a gente aprendia quanto tinha a idade deles!

Como assim, você deve estar se perguntando? Operações matemáticas no lugar de informática? Reino animal no lugar de educação sexual? Atirei O Pau no Gato ao invés de Meu Novo Namorado? Então ONDE eles aprendem essas coisas, meu Deus?

Eu sei, também fiquei pasmo.

Mas, então. Mais seguro, continuei ajudando-o com o dever. Tava até achando divertido. Sabe, nostálgico. Quatro páginas e vários erros de português corrigidos depois, a gente se deparou com a seguinte pergunta. O contexto era ‘‘brincadeiras de infância’’, e a pergunta era mais ou menos assim:

‘‘Pra você, existem brincadeiras só de menino ou só de menina? Comente’’.

Foi aí que me atingiu a revelação. Já estava começando a preparar a resposta que iríamos dar à questão:


Na sociedade moderna, livre dos preconceitos impostos a nossos antepassados por uma visão de mundo estreita e conservadora, a igualdade entre os sexos se torna um tema aparentemente ultrapassado. No entanto, tais noções errôneas ainda permeiam o inconsciente coletivo, levando a absurdos tais como [...]

EDU, Du, Dudu ou. A história do sexismo: dos primórdios

da civilização ao dever-de-casa do meu irmão. 2009, p. 43.


... quando, ainda mais abismado, percebo que ele escreveu ‘‘Sim. Boneca é coisa de menina e videogame é coisa de menino’’. Eu ia explicar pra ele sobre como isso é uma visão ultrapassada, que não se deve julgar as pessoas pelo gênero e blá-blá-blá, mas aí acabaram os comerciais, Padrinhos Mágicos voltou a passar e a gente fechou o livro e foi assistir. Ai eu tirei o assunto da cabeça.

Então, o que a gente conclui disso tudo? Como o tempo passa, mas algumas coisas permanecem as mesmas? Como as pessoas, ao crescerem, se tornam mais profundas, prolíficas, complicadas? Como Padrinhos Mágicos ajuda a suplantar as diferenças entre as gerações?

Não sei. Mas, ah, como eu queria que meu professor de Literatura da faculdade fosse legalzinho como os do meu irmão.